O desenho de um jardim tropical tende a ser mais orgânico e espontâneo e valorizar a aparência natural e exuberante das plantas. A naturalidade não significa que o planejamento é dispensável, muito pelo contrário, é uma etapa essencial, considerando que o projeto de paisagismo se transforma com o tempo. E o tempo, é a dimensão que determina o amadurecimento do projeto.
Variedade de espécies compõem um jardim de aparência nativa. Imagem: Depositphotos
Burle Marx
Foi o arquiteto paisagista, Roberto Burle Marx (1909-1994), quem desenvolveu o que caracteriza um jardim tropical. Seus jardins são um marco no paisagismo brasileiro, compostos com cuidadosa regência, para garantir o efeito espontâneo de elementos que devem preservar uma indisciplina natural.
O Jardim aquático do Itamaraty. Imagem: Depositphotos
O elemento água para Burle Marx, é indissociável dos jardins e em seus projetos aparecia de forma dinâmica e restauradora. O artista concebia suas obras através da harmonia, do equilíbrio e da capacidade de serem assimiladas. Incluía curvas e formas geométricas como deliberada interferência à composição natural de suas criações.
Jardim interno do Palácio do Itamaraty. Imagem: Depositphotos
A vasta produção de Burle Marx inclui os jardins para o bairro Pampulha em Belo Horizonte, o jardim da sede carioca do Instituto Moreira Salles, os jardins do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, o projeto de paisagismo do Parque do Flamengo, os projetos de calçadas e jardins para o alargamento da praia de Copacabana, também no Rio de Janeiro; os jardins, terraços e tapeçarias para o Palácio do Itamaraty, Praça Cívica, o Painel para o Palácio do Planalto e o Jardim para o Palácio do Jaburu em Brasília, entre outros.
Jardim do MAP, Museu de Arte da Pampulha em Belo Horizonte. Imagem: Depositphotos
A essência do Jardim Tropical
O conceito é a naturalidade, assim, no desenho desse jardim não há preocupação com a simetria. O projeto deve mimetizar as condições de uma floresta tropical, com clima úmido e temperatura agradável e constante, que favoreçam a diversidade de plantas.
Deve conter espécies nativas e variedade de plantas exóticas, tropicais ou subtropicais. Facilitar a integração, de modo semelhante ao do habitat natural, através de uma seleção que combine plantas de diferentes portes, garantindo condições ambientais de umidade e temperatura favoráveis, bem como solo fértil, rico em matéria orgânica.
Não é necessário muito espaço para abrigar o projeto de um jardim tropical, é possível desenvolver em pequena escala, como em uma varanda, por exemplo. Recomenta-se o uso de materiais naturais como a cerâmica e a madeira para enfatizar a atmosfera de naturalidade ao escolher cachepôs. E fundamental é conhecer as características e necessidades de cada espécie selecionada.
As plantas são cultivadas em sua forma natural. Imagem: Depositphotos
Manutenção
A manutenção das plantas que compõe um jardim tropical demanda menos trabalho que as de um jardim formal, onde existe a intenção de domar as espécies através de podas simples ou da
topiaria. Assumindo que a espontaneidade é uma qualidade esperada para esse jardim, a forma natural das plantas é valorizada e para preservar sua beleza, na maioria das vezes, a manutenção consiste apenas na remoção de folhas secas.
Umidade
O item mais importante sobre o jardim tropical, é a garantia de conservação da umidade desse ambiente, através das regas periódicas, sprays de água ou quando as dimensões do jardim permitirem, a presença de uma fonte ou lagoa, além da adubação periódica do solo.
Clima ideal
Através de climatização é possível proporcionar condições adequadas ao desenvolvimento das espécies, simulando as condições do cenário de uma Floresta Tropical, onde a presença do calor e da umidade são constantes. Cada espécie da vegetação que a compõe apresenta folhas verdes e perenes e tem suas próprias necessidades, algumas necessitam de iluminação indireta e devem ser abrigadas sob espécies maiores.
O elemento água presente nos projetos de Jardins Tropicais. Imagem: Depositphotos
Seleção de plantas indicadas para compor um jardim tropical
Philodendron. Imagem: Pixabay
Filodendro, Philodendron, o nome amigo (philos) das árvores (dendron) revela o comportamento de muitas espécies desse gênero que crescem agarradas às árvores. São nativas das Américas do Sul e Central. Apresentam folhas espessas e pesadas. É importante atenção ao fato de serem tóxicas. Um exemplo é o Philodendron Burle Marx.
O Guaimbé, Philodendron bipinnatifidum, é uma planta nativa da América do Sul, e integra projetos paisagísticos plantada isoladamente ou em grupos. Também pode ser plantada em vasos, trazendo beleza aos espaços internos. Apresenta folhas gigantes e recortadas, verde-escuras e brilhantes. Desenvolve-se a partir de sementes ou segmentação de mudas laterais, sob pleno sol ou meia sombra, em solo rico em matéria orgânica e regas regulares.
Monstera deliciosa. Imagem: Pixabay
Costela de Adão, Monstera deliciosa, nativa das Américas Central e do Sul, é uma trepadeira imponente que em seu habitat pode escalar até 20 metros. Possui folhas verde-escuras, firmes e brilhantes, que alcançam 20 a 40 cm de largura e perfuram à exposição a luz e ventos. Emite raízes aéreas que absorvem a umidade do ar. Raramente apresenta florações quando cultivada. As Florações se organizam em espádice (estrutura tipo espiga) protegida na base por uma bráctea (folha modificada). De fácil cultivo, se propaga por estaquia a cada 3 nós da planta, ou mudas do caule que apresentem raízes aéreas. Desenvolve-se em ambientes com pouca luminosidade, regas regulares e solo rico em nutrientes.
As Helicônias, tem a origem de seu nome no grego latinizado, helicon é um monte tortuoso, localizado na Beócia, região central da Grécia na qual surgiram fontes dedicadas as musas que transmitiam inspiração poética. Possuem portes variados e cores vibrantes.
Heliconia rostrata. Imagem: Depositphotos
Conhecida como bananeira-onamental, bananeira-do-brejo, caeté e papagaio, a Heliconia rostrata é uma planta nativa da América do Sul, que pode ser plantada em grupos, formando renques, mas se destaca quando plantada isolada. A planta floresce continuamente, em especial durante os meses mais quentes, suas inflorescências pendem, com flores pequenas e brancas. Desenvolve-se a partir da divisão das touceiras, a sol pleno ou meia sombra em solo rico em matéria orgânica, irrigado com frequência e pode alcançar 3,6 metros. Apenas não tolera o frio.
A Helicônia vermelha, Heliconia velloziana é uma planta nativa da America do Sul. Forma renques junto aos muros, pode ser agrupada a outras plantas ou ser mantida isolada. Possui folhas grandes e lisas, com longo pecíolo. Ao final do verão produz inflorescências eretas e progressivamente menores da base ao ápice. As brácteas têm cor vermelha ou laranja, com flores amarelas. Desenvolve-se pela divisão da touceira, sob pleno sol ou meia sombra, em solo rico em matéria orgânica e regas frequentes, mas não tolera frio ou geadas.
Nativa da América do Sul, a Helicônia papagaio, Heliconia psittacorum, é uma planta arbustiva palnatada em renques e formando maciços. Possui folhas verdes, de textura coriácea e lisas, com formato oval semelhante a ponta de uma lança. Apresenta brácteas brilhantes de cor amarela a vermelha e inflorescências curtas e duráveis. Seu caule é subterrâneo. Desenvolve-se pela divisão da touceira, sob pleno sol ou meia sombra em solo rico em matéria orgânica e regas frequentes.
O Pássaro-de-fogo, Heliconia bihai é uma planta tropical, nativa da Floresta Amazônica. Floresce na primavera e verão, suas Inflorescências tipo espiga. Pode alcançar até 4 metros.
O
Cambará,
Lantana camara, nativa das Américas Central e do Sul, é uma planta arbustiva ornamental. Tem folhas opostas e pilosas e inflorescências que formam buques de diversas cores, brancas, amarelas, vermelhas, rosas e laranjas. Os frutos são do tipo drupa. Desenvolve-se a partir de sementes e estacas, sob pleno sol em solo rico em matéria orgânica e regas regulares. É uma planta tolerante ao frio, invasora e tóxica, contém lantadeno A e B.
As flores da Bela Emília adicionam colorido ao Jardim Tropical. Imagem: Depositphotos
A Bela Emília, Plumbago auriculata, é muito usada em projetos paisagísticos para cercas vivas e pode ser conduzida como trepadeira. Apresenta flores azuladas ou brancas. Desenvolve-se a partir de sementes, estaquia e mergulhia sob pleno sol ou meia sombra. É rustica, não é exigente quanto ao solo, é versátil e tolerante ao frio. Recomenda-se poda regular para renovação das folhas e estimular a floração.
Na mergulhia, o galho é coberto com terra ainda ligado a planta e após a emissão de raízes é possível separar a muda.
Calathea zebrina. Imagem: Depositphotos
As Calateias, plantas do gênero Calathea ou Maranta são nativas da América Tropical e muito ornamentais. Quando agrupadas, constituem maciços formando bordaduras, compõem forração de piso e podem ser cultivadas em vasos. São perenes e possuem folhagens com formas e dimensões diversas. Algumas espécies apresentam folhas com padrões geométricos e a superfície inferior colorida. Em geral, suas flores não são decorativas. Ambientam-se em áreas de sombra que contenham algum teor de umidade, o que as torna ideais para ocupar espaços sob plantas de maior porte. Se expostas ao sol direto, sofrem queimaduras. A iluminação deve ser indireta e as regas, regulares. São rizomatosas, têm o caule subterrâneo. O solo deve ser mantido úmido, mas não encharcado. A manutenção consiste em remover as folhas mortas. Entre as calateias existem a Calatéia Zebrina, Calathea zebrina, o Caetê bravo, Stromanthe thalia, o Caetê redondo, Calathea orbifolia e a Maranta riscada, Calantha ornata.
O Pândano, Pandanus veitchii, é uma planta tropical, nativa da Oceania. Possui folhas verdes ou matizadas de amarelo ou branco, dispostas em torno do caule, que são muito decorativas, longas, achatadas e com margens denteadas. Apesar do crescimento ser lento, pode alcançar mais de 10 metros e emite raízes aéreas. Os frutos são grandes do tipo drupa. Multiplica-se a partir de sementes, sob sol pleno ou meia sombra, em solo fértil e regas regulares. Pode ser indicada para projetos no litoral por ser tolerante a maresia e salinidade do solo, mas não tolera clima frio ou seco.
Dracaena reflexa. Imagem: Depositphotos
A Pleomele ou Dracena, Dracaena reflexa, nativa da África, é uma planta muito usada em paisagismo para cercas vivas e em ambientes fechados. As folhas verde-oliva, podem apresentar margens na cor verde-limão ou branco-creme em formas variegadas. Floresce no inverno, apresentando flores pequenas e brancas em inflorescências terminais. Desenvolve-se por estaquia, sob sol pleno, luz difusa ou meia sombra, em solo rico em matéria orgânica e regas regulares. Seu ritmo de crescimento é moderado e pode alcançar 3 metros. É sensível ao sol intenso, geadas e salinidade do solo, mas tolera períodos curtos de estiagem.
Schefflera arborícola. Imagem: Pixabay
A Cheflera, Schefflera arboricola, nativa da Ásia é uma planta ornamental indicada para cercas vivas. Suas folhas verdes e brilhantes ou em tonalidade verde e amarela na forma variegada são separadas em oito folíolos. Desenvolve-se por sementes ou estaquia, sob pleno sol ou meia sombra em solo fértil com adubação orgânica e regas regulares. As inflorescências são compostas por inúmeras pequenas flores amareladas.
A Trapoeraba roxa ou trandescância, Tradescantia pallida, é nativa do México, tem grande valor ornamental para jardins verticais e horizontais e sua cor violeta se acentua à exposição solar. Desenvolve-se por estaquia sob sol pleno, em solo rico em matéria orgânica e regas regulares. Apresenta ritmo de crescimento rápido.
Projetos com atmosfera tropical utilizam palmeiras, uma das espécies recomendadas é a Butia capitata, espécie nativa do Brasil. Folhagem verde e perfumada, O solo não pode ser encharcado, a planta fica suscetível a um gênero de fungos, que pode provocar o apodrecimento das raízes. O sinal é o amarelecimento e perda das folhas. Para tratá-la, especialistas recomendam regar o solo com uma parte de peróxido de hidrogênio (água oxigenada) a 3%, acrescido de três partes de água. A planta deve receber adubação rica em potássio especialmente durante a primavera para seu fortalecimento. Pode alcançar até 5 metros.
Jardim Tropical em ambiente interno. Imagem: Depositphotos
Em um jardim tropical as folhagens predominam, mas o colorido das flores pode ser adicionado, deixando o jardim mais alegre e vistoso. Outras plantas recomendadas entre as diversas espécies, são as Bromélias, Orquídeas, Bananeiras, Agaves e Samambaias. A atmosfera tropical pode se fazer presente em ambientes internos, pela inclusão de algumas espécies em vasos. Os jardins externos de maior extensão, pela variedade de plantas, certamente atrairão visitantes e para recepcioná-los, adicionar ao projeto uma fonte de água rasa que os ajude a se refrescar e um local que ofereça alimentação, torna o local convidativo e acrescenta maior encanto ao jardim.
Visitantes de um Jardim Tropical. Imagem: Pixabay
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