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Precisamos falar sobre Biofilia: por que sustentabilidade não é suficiente?

Mais do que preservar precisamos nos integrar à natureza.

Por: Tales Costa       04 de Fevereiro de 2020 - ATUALIZADO EM: 05 de Janeiro de 2022   |   VISUALIZAÇÕES 8.544

Que a sustentabilidade na economia, e especialmente na indústria da construção, é um tema fundamental para o século XXI já é sabido. Objeto de inúmeras iniciativas mundo afora, a sustentabilidade figura como norte para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável pela Organização das Nações Unidas (Organização das Nações Unidas Brasil, 2015). E não poderia ser diferente.

Esgotamento de recursos naturais, problemas ambientais galopantes, extinções em massa e mudança climática são somente algumas das graves consequências da atitude contemporânea frente à natureza (Kellert, 2007). Contudo, a busca pela sustentabilidade do ambiente construído, ou seja, a busca pelo impacto zero, ou mesmo benéfico, do ambiente construído sobre o ambiente natural e seus recursos, não é suficiente.

 

Segundo aqueles que defendem a importância da biofilia no espaço construído devemos dar um passo adiante no sentindo de um novo paradigma em nossa relação com o ambiente, seja ele construído ou natural.

Para tais autores como: Kellert, Calabrese, Salingaros, Berto e Barbieri a consciência moderna levou a um afastamento gradual do homem frente à natureza que, contudo, atingiu níveis críticos nas últimas décadas (2007; 2015; 2019; 2017). Tal afastamento foi consequência de nossa atitude moderna frente à natureza.

De acordo com Kellert e Calabrese tal atitude reduz a natureza a mero recurso a ser explorado ou no mais dos casos a uma simples amenidade ou ornamentação (2015). Como consequência, temos um ambiente construído desprovido de elementos fundamentais para o desenvolvimento saudável do ser humano em termos físico, psicológicos, sociais e produtivos (2015). Veja também: Ambiente e saúde

 

Imagem: gabriel santiago - Unsplash

 

Salingaros toma um passo adiante ao afirmar que a arquitetura contemporânea pode ser mesmo um agente promotor de ansiedade, e, logo da degradação da saúde das pessoas, no espaço urbano (2019).

Segundo o autor, o paradigma da arquitetura moderna, ao se basear em conceitos formais durante a concepção do projeto, acaba por originar edifícios que quando não neutros em termo dos benefícios restaurativos que poderiam gerar às pessoas, lhes são muitas vezes maléficos causando maior desgaste e cansaço tanto físico quanto psicológico (2019).

Segundo Salingaros a preferência por uma abordagem formalista da arquitetura atual é incompatível com a qualidade restaurativa do ambiente construído tal como proposto pelo paradigma biofílico e com o modo instintivo como as pessoas percebem e compreendem o ambiente em que habitam (2019).

Berto e Barbieri vão além propondo que o valor restaurativo da biofilia e da natureza como um todo deveria substituir a abordagem formalista como nova atitude arquitetônica na qual o objetivo maior seria a construção de um edifício no qual seja possível desempenhar toda a potencialidade do ser humano (2017).

 

Em suma, o que tais autores defendem é um novo paradigma para a prática arquitetônica segundo o qual o aspecto restaurativo do ambiente construído deve assumir precedência sobre os demais objetivos durante a concepção do espaço. Os benefícios de tal abordagem são inúmeros: melhor saúde física e mental, menos estresse, maior produtividade entre tantos outros como tratamos no artigo “Biofilia: o que é e qual sua importância para arquitetura?”.

Logo, mais do que simplesmente preservar a natureza se faz importante reestabelecer a noção de que somos partes integrantes de um todo maior: mais do que uma parte autônoma a qual poderia subjugar o mundo natural tratando-o como mero recurso a ser poupado ou investido precisaríamos estabelecer uma relação de benefício mútuo. Aqui então entra a questão da sustentabilidade.

 

Imagem: markus krisetya - Unsplash

 

Segundo os mesmos autores citados acima, conquanto seja fundamental a redução do consumo de recursos naturais, como água e eletricidade, e a redução de externalidades para o meio ambiente, como a produção de gás carbônico, a sustentabilidade dos edifícios não é suficiente.

Kellert argumenta que as iniciativas típicas de sustentabilidade do ambiente construído têm, quase que exclusivamente, focado na diminuição de danos ao ambiente natural com poucos benefícios à saúde, bem estar e produtividade dos usuários (2007).

Avançando no argumento, Kellert e Calabrese argumentam que a sustentabilidade permanecerá sendo um objetivo elusivo enquanto não formos capazes de desenvolvermos um apego pelo lugar que habitamos e pelos edifícios que compõem tais lugares (2015). Isso porque por mais eficientes que sejam tais edifícios todos necessitarão de cuidados e manutenção durante sua vida e não haverá tal cuidado na ausência de apego por parte de seus usuários. Por sua vez, segundo os autores, tal apego somente se desenvolve na medida em que reconhecemos tais edifícios e lugares como significativos para nossa história, nossa identidade e nossa saúde (2015).

 

Em outras palavras, as pessoas se ocupam em preservarem aqueles espaços que lhes são importantes, que lhes fazem sentir bem ou reconhecidas. Um certificado de sustentabilidade ou alta eficiência energética não é suficiente.

 

Berto e Barbieri adotam uma via mais prática ao defenderem que a sustentabilidade, enquanto objetivo da prática arquitetônica, peca em demandar dos profissionais da área a preocupação com a qualidade de vida e bem-estar dos usuários para os quais estão projetando (2017). Saiba mais: Arquitetura: Qualidade de Vida

Segundo os autores, a preocupação com questões de forma e escala se sobrepõem às potenciais qualidades restaurativas do espaço empobrecendo o ambiente construído projetado (2017).

Já Salingaros se posiciona no sentido de que um paradigma biofílico para a construção não somente atende aos critérios correntes de sustentabilidade como os ultrapassa. Para o autor, um edifício construído segundo tal paradigma biofílico seria projetado como extensão de nossa biologia e ecossistema e de tal forma que seus usuários se sentiriam mais saudáveis em habitá-lo. Como consequência haveria maior motivação para a manutenção do edifício e sua preservação contra demolição e posterior construção de outro edifício. Assim, um ambiente projetado segundo um paradigma que considerasse a biofilia como conceito norteador do projeto seria uma alternativa para a construção de ambientes mais resilientes, e consequentemente, mais sustentáveis (2019).

Como resultado temos que, conquanto seja fundamental para preservação do ambiente natural e para a recuperação dos danos a tal meio ambiente, a sustentabilidade, tal como entendida neste artigo: a busca pelo mínimo impacto sobre o meio ambiente entendido como recursos naturais, não é suficiente para atingir o potencial máximo preconizado pela biofilia para o ambiente construído. A construção de um ambiente no qual o máximo potencial humano possa se desenvolver em saúde, bem estar e produtividade não só extrapola o objetivo da sustentabilidade, mas deve tomar precedência também à questão da forma na arquitetura contemporânea.

Tal é o paradigma proposto por estes autores. Os riscos, e os benefícios, em questão, são altos.

 

> Saiba mais: Como aplicar a Biofilia na Arquitetura?

 

Referências

 

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