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Roberto Burle Marx

O criador do jardim tropical moderno foi um artista incomum de múltiplas qualidades

Por: Renata Vianna Unruh       01 de Julho de 2022 - ATUALIZADO EM: 19 de Julho de 2022   |   VISUALIZAÇÕES 2.617

Biografia e contexto histórico

Roberto Burle Marx (1909-1994) nasceu em São Paulo, filho de Cecília Burle, uma pernambucana de origem franco-holandesa e católica e do comerciante judeu-alemão de Stuttgart, Wilhelm Marx, que chegou ao Recife em 1895. Cecília e Wilhelm se casaram e começaram sua família em São Paulo. Na Villa Fortunata, nasceram cinco de seus seis filhos, entre eles, Roberto Burle Marx.
Em 1913, a família se mudou para o Rio de Janeiro, vivendo algum tempo com uma tia materna, até se instalarem em uma confortável chácara no Leme. O interesse pelas plantas começou na infância, na propriedade, sua mãe cultivava um extenso jardim.
 
O início do século XX, marca um período de intensa agitação cultural no panorama artístico, a Semana de Arte Moderna em 1922, foi um importante evento que teve por objetivo a valorização da essência brasileira e norteou uma nova estética artística. Até então, as referências culturais eram estrangeiras, herança da missão artística francesa pela chegada da corte portuguesa ao Brasil, em 1808. Nesse contexto de necessidade de renovação, as manifestações artísticas se mesclavam e Burle Marx se interessou por música e literatura.
 
Em 1928, durante uma visita ao Botanischer Garten, o Jardim Botânico de Berlim, a visão das plantas da flora tropical brasileira em estufas quentes, inspiraram o jovem Burle Marx. Enquanto viveu na Alemanha, ele pode apreciar as obras da vanguarda artística europeia, que despertaram seu interesse pela pintura. E ao retornar ao Brasil, iniciou a Escola de Belas Artes, então dirigida pelo amigo de infância, o arquiteto e urbanista, Lúcio Costa.
 

Características da obra de Burle Marx

 
Sua habilidade e os conhecimentos em pintura de influência pós-cubista, transpareceram em suas criações, através da atenção à organização espacial e ao controle técnico. Desenvolveu jardins com traços geométricos e princípios do abstracionismo e do cubismo, traduzindo em sua obra, o zeitgeist, o espírito de seu tempo. 
 
A sensibilidade e a curiosidade do artista, o estimularam a explorar a arte em vários campos, praticou pintura, elaborou gravuras e tapeçarias, desenhos, inclusive de joalheria, painéis de azulejos e cerâmica, esculturas, cenários e figurinos para teatro. Essas experiências artísticas diversificadas, constituíram a essência para sua expressão paisagística. A partir de investigações sobre a materialidade e a inclusão de elementos inusitados aos jardins, estabeleceu um novo modo de concepção. Foi o precursor da identidade do paisagismo brasileiro, ao explorar a flora indígena em seus projetos e mesclá-la a formas geométricas estruturantes do espaço planejado. Em seus projetos paisagísticos, o deslocamento do visitante é um componente importante para a experiência sensorial. 
Sua criação transcende o resultado estético, no cuidado em atender as necessidades dos visitantes do espaço, um traço que o aproximou de arquitetos e urbanistas. 
Utilizou várias plantas nativas entre as espécies que integraram suas composições, como cactáceas, lianas, helicônias, samambaias e palmeiras. E incluiu espécies como a Victoria amazonica, sobre as superfícies espelhadas de seus jardins aquáticos, produzindo pinturas vivas.
 

O sítio Burle Marx

 
Em 1949, adquiriu com o irmão, Guilherme Siegfried Burle Marx, o sítio Santo Antônio da Bica em Barra de Guaratiba, um bairro do Rio de Janeiro. Local onde desenvolveu diversos de seus talentos artísticos, realizou estudos, acompanhou a aclimatação das espécies que seriam utilizadas em seus projetos e foi um memorável anfitrião. Gostava de reunir os amigos com carinho e excelente comida. 
 
Burle Marx foi um ativista ambiental, sua preocupação com a preservação das espécies nativas, fez do sítio um local para a conservação. Ainda em vida, doou a propriedade de aproximadamente 400 mil m2 ao Estado brasileiro. O sítio renomeado sítio Roberto Burle Marx, constitui patrimônio paisagístico, arquitetônico e botânico, que inclui jardins, lagos, coleções de arte, várias edificações e mais de 3.500 espécies nativas e exóticas. O imóvel é gerido pelo Iphan e alcançou o status de Patrimônio Histórico da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura em 2021.
 
"Deus, para mim, é a natureza.” Roberto Burle Marx

Cronologia contendo algumas de suas principais obras

 
1932 - Na década de 30, Lúcio Costa e Gregori Warchavchik projetavam a residência de Alfredo Schwartz. Costa indicou Burle Marx, para criar o jardim da casa da família, em Copacabana, Rio de Janeiro. Foi seu primeiro projeto paisagístico.
 
1934-1937 - Ao concluir seus estudos na Escola Nacional de Belas Artes, desenvolveu projetos de praças do Recife, entre elas o Jardim da Casa Forte e a Praça Euclides da Cunha, também denominada o Cactário da Madalena ou a Praça do Internacional (pela localização em frente ao Clube Internacional de Recife). Uma homenagem a obra de Euclides da Cunha pela obra, Os Sertões, que promoveu a cultura brasileira.  A praça tem área assentada em pedras, estrutura ordenada e ostenta espécies da botânica da Caatinga. Os cactos maiores estão localizados em dois canteiros, circundados por canteiros menores, resguardados por uma linha vegetal.
 
1938 - A convite do amigo, Lúcio Costa, Burle Marx elaborou o projeto dos jardins e terraços do Ministério da Educação e Saúde (atual Palácio Gustavo Capanema), no Rio de Janeiro. O projeto fez dele uma referência, Burle Marx foi reconhecido como o criador do jardim tropical moderno. Como uma pintura abstrata, o projeto de Burle Marx inaugura a arquitetura paisagística moderna na cobertura do Ministério. Arquitetos: Lúcio Costa, Affonso Eduardo Reidy, Oscar Niemeyer, Jorge Machado Moreira, Carlos Leão e Ernani Vasconcellos. 
 
1938 - Jardim da Praça Salgado Filho, no Aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro.
 
1938 - Jardins para as residências de Roberto Marinho e J. Louis Wallerstein, Rio de Janeiro.
 
1940 - Jardins dos edifícios da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), Rio de Janeiro.
 
1942 - Jardins para o bairro da Pampulha (Cassino, Iate Clube, Casa do Baile, Ilha Restaurante e o roseiral e o ficetum da Igreja São Francisco), Belo Horizonte. Considerado o marco original de uma arquitetura moderna propriamente brasileira. Arquiteto: Oscar Niemeyer.
 
1943 - Jardim do Parque do Barreiro, em Araxá, Minas Gerais, em colaboração com o botânico Henrique Lahmeyer de Mello Barreto.
 
1948 - Jardins para a residência de Odette Monteiro, em Correias e Fazenda Samambaia, em Petrópolis, no Rio de Janeiro.
 
1948 - Jardins para a residência de Diego Cisneiros, em Caracas, Venezuela; casa de Burton Tremaine, em Santa Bárbara, na Califórnia, Estados Unidos.
 
1949 - Jardim da sede carioca do Instituto Moreira Salles, com imenso painel de azulejos, Rio de Janeiro.
 
1950 - Jardim e painéis para a Tecelagem Parahyba e para a residência de Olivo Gomes, em São José dos Campos, São Paulo. Mais tarde a antiga tecelagem se converteu em parque público. Arquiteto: Rino Levi.
 
1951 - Jardim e mosaico de pastilhas de vidro para o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, conhecido como Pedregulho, Rio de Janeiro.
 
1953 - Projeto para o Parque Ibirapuera, em São Paulo. O projeto de Burle Marx não foi executado.
 
1954 - Projeto de recuperação do Largo do Machado, no Rio de Janeiro. Burle Marx desenvolveu o projeto em uma expressão cubista, utilizando pedra portuguesa em três cores.
 
1954 - Jardins do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro. Arquiteto: Affonso Eduardo Reidy.
 
1956 - Jardins da residência de Francisco Matarazzo Pignatari (Baby Pignatari), em São Paulo. A área de aproximadamente 15 hectares, foi adquirida pelo empresário na década de 40, para viver com a esposa. E contratou Burle Marx para projetar e executar o jardim da casa, autoria do arquiteto Oscar Niemeyer. Pignatari se envolveu com a princesa italiana Ira von Fürstenberg, o que interrompeu o desenvolvimento das obras. Na década de 90, a propriedade foi transformada em parque público e o próprio Burle Marx requalificou o jardim lateral da casa. A arquiteta paisagista, Rosa Kliass coordenou a elaboração do projeto do parque, inaugurado em 1995. A área do Jardim Burle Marx, idealizada pelo paisagista é marcada pelo gramado xadrez, palmeiras-imperiais enfileiradas marcando os planos verticais, espelhos d’água, pergolado de concreto e painéis de pastilhas coloridas.
 
1956-1961 - Coordenação de equipe e projeto paisagístico para a criação do Parque del Este (Parque Generalísimo Francisco de Miranda), em Caracas, Venezuela.
 
1961 - O projeto do aterro da orla da baía de Guanabara, a urbanização do parque do Flamengo e sua ocupação foram de responsabilidade do arquiteto Affonso Eduardo Reidy, enquanto o projeto paisagístico coube a Burle Marx. O parque de 120 hectares, inclui o Museu de Arte Moderna do Rio de janeiro. É um dos mais importantes projetos de Burle Marx. Diferentes espécies naturais estão reunidas na praça Salgado Filho que tem o piso alternado entre pedra e grama e banco de pedra sinuoso seguindo os canteiros. Os jardins em torno do Museu apresentam traçado regular e canteiros ortogonais, já o parque Brigadeiro Eduardo Gomes, é caracterizado pela articulação de projetos para pequenos recantos e amplas áreas ajardinadas ao longo das vias expressas. Mais de quarenta espécies de palmeiras nativas e exóticas integraram o projeto.
 
1965 - Jardins, terraços e tapeçarias para o Palácio do Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores, Brasília. O jardim externo, os jardins internos, e o jardim suspenso são compostos por plantas tropicais, do Cerrado e da Amazônia. Arquiteto: Oscar Niemeyer.
 
1970 - O calçadão de Copacabana e os jardins para o alargamento da praia, no Rio de Janeiro. O mosaico de pedra portuguesa já existia e foi adaptado por Burle Marx, alinhando as ondas paralelamente ao mar.
 
1970 - Jardins e esculturas de concreto da Praça Cívica (Praça dos Cristais), Ministério do Exército, Brasília. Arquiteto: Oscar Niemeyer.
 
1972 - Painel para o Palácio do Planalto, Brasília. Arquiteto: Oscar Niemeyer.
 
1974 - Projeto de jardim suspenso para a indústria têxtil Cia. Hering, em Blumenau, Santa Catarina. Arquiteto: Hans Broos.
 
1975 - O jardim para o Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência da República, Brasília. A composição reúne espécies típicas do cerrado, espécies frutíferas e ornamentais de outras regiões do país.
 
1982 - O jardim em terraços do Banco Safra de São Paulo.
 
1988 - Biscayne Boulevard em Miami.
 
1993 - Kuala Lumpur City Centre Park, na Malásia, seu último projeto.
 
 

Fontes consultadas e imagens

 
 
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