Roberto Burle Marx (1909-1994) nasceu em São Paulo, filho de Cecília Burle, uma pernambucana de origem franco-holandesa e católica e do comerciante judeu-alemão de Stuttgart, Wilhelm Marx, que chegou ao Recife em 1895. Cecília e Wilhelm se casaram e começaram sua família em São Paulo. Na Villa Fortunata, nasceram cinco de seus seis filhos, entre eles, Roberto Burle Marx.
Em 1913, a família se mudou para o Rio de Janeiro, vivendo algum tempo com uma tia materna, até se instalarem em uma confortável chácara no Leme. O interesse pelas plantas começou na infância, na propriedade, sua mãe cultivava um extenso jardim.
Em 1928, durante uma visita ao Botanischer Garten, o Jardim Botânico de Berlim, a visão das plantas da flora tropical brasileira em estufas quentes, inspiraram o jovem Burle Marx. Enquanto viveu na Alemanha, ele pode apreciar as obras da vanguarda artística europeia, que despertaram seu interesse pela pintura. E ao retornar ao Brasil, iniciou a Escola de Belas Artes, então dirigida pelo amigo de infância, o arquiteto e urbanista, Lúcio Costa.
Sua habilidade e os conhecimentos em pintura de influência pós-cubista, transpareceram em suas criações, através da atenção à organização espacial e ao controle técnico. Desenvolveu jardins com traços geométricos e princípios do abstracionismo e do cubismo, traduzindo em sua obra, o zeitgeist, o espírito de seu tempo.
A sensibilidade e a curiosidade do artista, o estimularam a explorar a arte em vários campos, praticou pintura, elaborou gravuras e tapeçarias, desenhos, inclusive de joalheria, painéis de azulejos e cerâmica, esculturas, cenários e figurinos para teatro. Essas experiências artísticas diversificadas, constituíram a essência para sua expressão paisagística. A partir de investigações sobre a materialidade e a inclusão de elementos inusitados aos jardins, estabeleceu um novo modo de concepção. Foi o precursor da identidade do paisagismo brasileiro, ao explorar a flora indígena em seus projetos e mesclá-la a formas geométricas estruturantes do espaço planejado. Em seus projetos paisagísticos, o deslocamento do visitante é um componente importante para a experiência sensorial.
Sua criação transcende o resultado estético, no cuidado em atender as necessidades dos visitantes do espaço, um traço que o aproximou de arquitetos e urbanistas.
Utilizou várias plantas nativas entre as espécies que integraram suas composições, como cactáceas, lianas, helicônias, samambaias e palmeiras. E incluiu espécies como a Victoria amazonica, sobre as superfícies espelhadas de seus jardins aquáticos, produzindo pinturas vivas.
Burle Marx foi um ativista ambiental, sua preocupação com a preservação das espécies nativas, fez do sítio um local para a conservação. Ainda em vida, doou a propriedade de aproximadamente 400 mil m2 ao Estado brasileiro. O sítio renomeado sítio Roberto Burle Marx, constitui patrimônio paisagístico, arquitetônico e botânico, que inclui jardins, lagos, coleções de arte, várias edificações e mais de 3.500 espécies nativas e exóticas. O imóvel é gerido pelo Iphan e alcançou o status de Patrimônio Histórico da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura em 2021.
"Deus, para mim, é a natureza.” Roberto Burle Marx
Cronologia contendo algumas de suas principais obras
1932 - Na década de 30, Lúcio Costa e Gregori Warchavchik projetavam a residência de Alfredo Schwartz. Costa indicou Burle Marx, para criar o jardim da casa da família, em Copacabana, Rio de Janeiro. Foi seu primeiro projeto paisagístico.
1934-1937 - Ao concluir seus estudos na Escola Nacional de Belas Artes, desenvolveu projetos de praças do Recife, entre elas o Jardim da Casa Forte e a Praça Euclides da Cunha, também denominada o Cactário da Madalena ou a Praça do Internacional (pela localização em frente ao Clube Internacional de Recife). Uma homenagem a obra de Euclides da Cunha pela obra, Os Sertões, que promoveu a cultura brasileira. A praça tem área assentada em pedras, estrutura ordenada e ostenta espécies da botânica da Caatinga. Os cactos maiores estão localizados em dois canteiros, circundados por canteiros menores, resguardados por uma linha vegetal.
1938 - A convite do amigo, Lúcio Costa, Burle Marx elaborou o projeto dos jardins e terraços do Ministério da Educação e Saúde (atual Palácio Gustavo Capanema), no Rio de Janeiro. O projeto fez dele uma referência, Burle Marx foi reconhecido como o criador do jardim tropical moderno. Como uma pintura abstrata, o projeto de Burle Marx inaugura a arquitetura paisagística moderna na cobertura do Ministério. Arquitetos: Lúcio Costa, Affonso Eduardo Reidy, Oscar Niemeyer, Jorge Machado Moreira, Carlos Leão e Ernani Vasconcellos.
1938 - Jardim da Praça Salgado Filho, no Aeroporto Santos Dumont, Rio de Janeiro.
1938 - Jardins para as residências de Roberto Marinho e J. Louis Wallerstein, Rio de Janeiro.
1940 - Jardins dos edifícios da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), Rio de Janeiro.
1942 - Jardins para o bairro da Pampulha (Cassino, Iate Clube, Casa do Baile, Ilha Restaurante e o roseiral e o ficetum da Igreja São Francisco), Belo Horizonte. Considerado o marco original de uma arquitetura moderna propriamente brasileira. Arquiteto: Oscar Niemeyer.
1943 - Jardim do Parque do Barreiro, em Araxá, Minas Gerais, em colaboração com o botânico Henrique Lahmeyer de Mello Barreto.
1948 - Jardins para a residência de Odette Monteiro, em Correias e Fazenda Samambaia, em Petrópolis, no Rio de Janeiro.
1948 - Jardins para a residência de Diego Cisneiros, em Caracas, Venezuela; casa de Burton Tremaine, em Santa Bárbara, na Califórnia, Estados Unidos.
1949 - Jardim da sede carioca do Instituto Moreira Salles, com imenso painel de azulejos, Rio de Janeiro.
1950 - Jardim e painéis para a Tecelagem Parahyba e para a residência de Olivo Gomes, em São José dos Campos, São Paulo. Mais tarde a antiga tecelagem se converteu em parque público. Arquiteto: Rino Levi.
1951 - Jardim e mosaico de pastilhas de vidro para o Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, conhecido como Pedregulho, Rio de Janeiro.
1953 - Projeto para o Parque Ibirapuera, em São Paulo. O projeto de Burle Marx não foi executado.
1954 - Projeto de recuperação do Largo do Machado, no Rio de Janeiro. Burle Marx desenvolveu o projeto em uma expressão cubista, utilizando pedra portuguesa em três cores.
1954 - Jardins do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, no Aterro do Flamengo, Rio de Janeiro. Arquiteto: Affonso Eduardo Reidy.
1956 - Jardins da residência de Francisco Matarazzo Pignatari (Baby Pignatari), em São Paulo. A área de aproximadamente 15 hectares, foi adquirida pelo empresário na década de 40, para viver com a esposa. E contratou Burle Marx para projetar e executar o jardim da casa, autoria do arquiteto Oscar Niemeyer. Pignatari se envolveu com a princesa italiana Ira von Fürstenberg, o que interrompeu o desenvolvimento das obras. Na década de 90, a propriedade foi transformada em parque público e o próprio Burle Marx requalificou o jardim lateral da casa. A arquiteta paisagista, Rosa Kliass coordenou a elaboração do projeto do parque, inaugurado em 1995. A área do Jardim Burle Marx, idealizada pelo paisagista é marcada pelo gramado xadrez, palmeiras-imperiais enfileiradas marcando os planos verticais, espelhos d’água, pergolado de concreto e painéis de pastilhas coloridas.
1956-1961 - Coordenação de equipe e projeto paisagístico para a criação do Parque del Este (Parque Generalísimo Francisco de Miranda), em Caracas, Venezuela.
1961 - O projeto do aterro da orla da baía de Guanabara, a urbanização do parque do Flamengo e sua ocupação foram de responsabilidade do arquiteto Affonso Eduardo Reidy, enquanto o projeto paisagístico coube a Burle Marx. O parque de 120 hectares, inclui o Museu de Arte Moderna do Rio de janeiro. É um dos mais importantes projetos de Burle Marx. Diferentes espécies naturais estão reunidas na praça Salgado Filho que tem o piso alternado entre pedra e grama e banco de pedra sinuoso seguindo os canteiros. Os jardins em torno do Museu apresentam traçado regular e canteiros ortogonais, já o parque Brigadeiro Eduardo Gomes, é caracterizado pela articulação de projetos para pequenos recantos e amplas áreas ajardinadas ao longo das vias expressas. Mais de quarenta espécies de palmeiras nativas e exóticas integraram o projeto.
1965 - Jardins, terraços e tapeçarias para o Palácio do Itamaraty, Ministério das Relações Exteriores, Brasília. O jardim externo, os jardins internos, e o jardim suspenso são compostos por plantas tropicais, do Cerrado e da Amazônia. Arquiteto: Oscar Niemeyer.
1970 - O calçadão de Copacabana e os jardins para o alargamento da praia, no Rio de Janeiro. O mosaico de pedra portuguesa já existia e foi adaptado por Burle Marx, alinhando as ondas paralelamente ao mar.
1970 - Jardins e esculturas de concreto da Praça Cívica (Praça dos Cristais), Ministério do Exército, Brasília. Arquiteto: Oscar Niemeyer.
1972 - Painel para o Palácio do Planalto, Brasília. Arquiteto: Oscar Niemeyer.
1974 - Projeto de jardim suspenso para a indústria têxtil Cia. Hering, em Blumenau, Santa Catarina. Arquiteto: Hans Broos.
1975 - O jardim para o Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência da República, Brasília. A composição reúne espécies típicas do cerrado, espécies frutíferas e ornamentais de outras regiões do país.
1982 - O jardim em terraços do Banco Safra de São Paulo.
1988 - Biscayne Boulevard em Miami.
1993 - Kuala Lumpur City Centre Park, na Malásia, seu último projeto.
Fontes consultadas e imagens